Funeral Doom Metal: Uma das formas mais extremas de Música

Fonte: Roadie Metal

Bruno Rocha 18 de junho de 2017

Na segunda metade dos anos 80, o Doom Metal já era um gênero consolidado e com suas características bem definidas. Se na década anterior, o Black Sabbath já praticava o gênero, ainda que mal existisse a diferença entre Heavy Metal e Hard Rock, nos anos 80 novas bandas pegaram o lado mais soturno da banda de Tony Iommi e definiram de vez o estilo. Coube ao baixista Leif Edling e seu Candlemass somente sacramentar a estabilização do Gênero Maldito. Andamentos lentos, riffs fúnebres, climas e atmosferas sombrias são algumas das principais características do Doom Metal, e são o ponto de partida para cada banda impor sua identidade e características particulares. Devido a isso, o próprio Doom Metal se ramificou em novos estilos a partir do fim da década de 80.

Pelo seu ritmo devagar, sobra mais tempo e espaço para o compositor trabalhar suas ideias em sua banda. Com o advento do Death/Doom através de bandas como Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema, o estilo conseguiu atingir novos níveis de morbidez climática e sonora, aliando a atmosfera natural do Doom com o terror e o medo do Death Metal da época. Como em todo estilo metálico que surge, sempre existirão bandas que tentarão sugar ao máximo todas as peculiaridades do aspecto trabalhado. No caso do Death/Doom não foi diferente. Se o gênero já nasceu lento, sombrio e estrangulante, teve quem tentasse elevar tudo isso ao máximo, ou ao mínimo.

Na Finlândia, mais precisamente na cidade de Kaarina, três amigos se juntaram para mudar mais uma vez os caminhos do Doom Metal. Niko Skorpio, Mikko Ruotsalainen e Jori Sjöroos formaram uma banda de vida curta, mas de influência que perdura até hoje nos círculos obscuros do underground, o Thergothon. Com duas demos lançadas em 1991, o trio gravou no ano de 1992 seu primeiro e único álbum, Stream From The Heavens, lançado somente em 1994 via Avantgarde Music. Neste registro, o Thergothon elevou à máxima potência a noção de estrangulamento sonoro. O trio conseguiu pegar o Death/Doom já consolidado e o trajou com uma roupagem angustiante, com climas mórbidos e andamento extremamente lento e fúnebre. Estava criado o Funeral Doom Metal. Mas, como uma mágica que sempre acontece em qualquer arte, ninguém cria nada sozinho, pois outra entidade, de forma independente da primeira, consegue ter os mesmos objetivos de pioneirismo ao mesmo tempo.

Também no País dos Mil Lagos, desta vez na cidade de Riihimäki, surgiu uma banda que divide o título de criador do Funeral Doom com o Thergothon, o Skepticism. Fundada em 1991, em suas primeiras demos ainda se encontrava um Death Metal mais tradicional, que foi logo se transformando num Death/Doom, e daí para mais lento ainda, dado o uso constante de teclados e vocais guturais cavernosos, aliados à marcha lenta das músicas. Em 1995 lançaram seu debut, Stormcrowfleet, com seis faixas, todas na média dos dez minutos, trazendo o que havia de mais fúnebre e soturno em termos de música, com um estilo ligeiramente mais denso que o do Thergothon.

Mas afinal, o que é o Funeral Doom Metal?

Muitos podem entender o Funeral Doom Metal como sendo uma forma extrema de Death/Doom, no sentido de ser bem mais lento e mais angustiante. Mas, para Evgeny Semenov, um dos chefes da gravadora russa Solitude Productions, especializada em Doom Metal, tem que haver um cuidado na hora de saber o que é ou não Funeral Doom, pois, não se enquadra neste estilo somente quem faz música lenta. Segundo ele, em uma palavra concedida à revista Terrorizer, os únicos pontos em comum entre Thergothon e Skepticism são o andamento ultra arrastado e o fato de serem Heavy Metal. Para ele, existe o Funeral Doom/Death, que é o mesmo que Death/Doom, só que com andamento bastante devagar, e o Ambient Funeral Doom, que não usa as mesmas estruturas de riffs de Death/Doom, mas mantém o peso nas guitarras e adiciona uma parede imensa de linhas dramáticas de teclados.

Outra banda pioneira do Funeral Doom, desta vez fora da Finlândia, é o Esoteric, da Inglaterra. Esta sim, banda feita para os fãs “Die-Hard” do gênero, pois já em seu primeiro álbum, Epistemological Despondency (1994), o grupo britânico apostava em músicas de mais de 20 minutos de puro peso, lentidão e agonia, enquanto ainda mantinha traços do tradicional Death/Doom em partes de suas estruturas. O Esoteric também aposta no lado visual. As capas de seus álbuns geralmente trazem imagens de motivos geométricos que criam efeitos visuais torturantes e psicodélicos. Ouvir a música do Esoteric enquanto se contempla suas capas é perturbador. Greg Chandler, guitarrista e vocalista do Esoteric, explica que seu som tem que ser emocional e caótico, representando estados mentais durante o processo de composição ou um espectro de experiências passadas.

O Funeral Doom foi um estilo que demorou a se espalhar mundo afora. A internet ainda dava seus primeiros passos e ainda haviam poucas bandas com essa ideia e obsessão pelo mórbido. Ainda nos anos 90, o Evoken, dos EUA, começava a apostar no Death/Doom com som extremamente arrastado. Na Noruega, vizinha da Finlândia, berço do Funeral Doom, a banda Funeral já carregava o nome do estilo em meio a forte e polêmica cena Black Metal da época.

Com a força que a internet ganhou a partir dos anos 2000, as bandas pioneiras do Funeral Doom começaram a ficar cada vez mais conhecidas mundialmente, lógico, no meio underground do estilo, já que o Funeral Doom é um modo musical nada palatável facilmente, consequentemente, de difícil popularidade. Com o “boom” da internet, começaram a surgir muitas novas bandas do gênero. Aí surgiu o grande problema!

Como dito, o Funeral Doom é um estilo de sonoridade deveras difícil de ser absorvida, dado o ritmo mórbido e extremamente arrastado e as músicas muito longas. Com a quantidade de bandas aumentando, rapidamente o estilo se tornou saturado. Se uma banda se propõe a fazer música extremamente arrastada, a probabilidade é grande de suas peças musicais soarem maçantes e piegas. De modo que, para uma banda se destacar em relação às demais, é preciso oferecer um atrativo a mais em suas composições; algum diferencial único. E de um dos mais longínquos países do mapa-mundi, a Austrália, vem uma das bandas mais legais e criativas do gênero, o Mournful Congregation.

Surgida em 1993 na cidade de Adelaide, no cantinho do mundo e distante da Finlândia ou dos EUA, o grupo liderado por Damon Good pratica um Funeral Doom cheio de melodia e detalhes que tornam seu som único e empolgante, não obstante o ritmo devagar. Com influências do Post-Rock, o grupo australiano enche suas músicas com solos de guitarra ora técnicos, ora sentimentais, e vocais limpos. Até mesmo quem não é chegado no estilo consegue se surpreender com o Funeral Doom do Mournful Congregation, que também ostenta um dos nomes de banda mais legais da cena.

Em questão de temas líricos, o filho mais extremo do Doom Metal não foge muito dos temas abordados pelo pai. Depressão, angústia, tristeza e melancolia dão a tônica das letras.  E não poderia ser diferente. Tal o clima de depressão e sufocamento criado pelas músicas, elas só poderiam estar retratando sentimentos sorumbáticos e de desespero máximo. A não ser que você seja o Ahab, da Alemanha, e seja obcecado por temas náuticos. Os vocais guturais extremos só aumentam a sensação de melancolia do Funeral Doom, fazendo mais um papel de potencializar a atmosfera pesada e densa do gênero.

Outra banda que se destaca em meio a cena é também finlandesa, o Shape Of Despair. Esta banda da cidade de Helsinki aposta fortemente em atmosferas criadas por orquestrações feitas em teclados, o que dá uma variedade de paisagens sonoras ao som do grupo. Shape Of Despair é uma das mais conhecidas bandas do estilo atualmente. Uma banda discípula do Shape Of Despair vem de um país de tradição inexpressiva no Metal mundial. O grupo iraniano 1000 Funerals cravou seu nome no rol das bandas mais importantes do estilo com seus dois álbuns de estúdio, Portrait Of A Dream (2005) e Butterfly Decadence, lançado em 2011, ano em que a banda encerrou suas atividades. Com esse feito, o 1000 Funerals consegue ser o nome mais reconhecido do Heavy Metal daquele país.

Também se credencia a um lugar de destaque atualmente a banda Ea, dos Estados Unidos. Este grupo tem em sua obscuridade um trunfo, já que ninguém sabe quem são seus integrantes, seus nomes ou de onde são. Suspeita-se que são norte-americanos somente pela localização de sua conta no Bandcamp. Outra peculiaridade do Ea são suas letras, cantadas em um antigo idioma morto, que só os integrantes da banda dominam, dado que são arqueólogos que, com suas pesquisas, conseguiram reconstruí-lo. O Funeral Doom do Ea é muito bem produzido, pesado e empolgante. Seu último full-lenght, A Etilla (2014) é composto por uma única colossal música, de míseros 49 minutos (!), cheia de movimentos e de mudanças de andamento, variando muito bem seu Funeral Doom. Um grande e imponente monólito sonoro, de fato.

Contudo, como a frase “a vida imita a arte” é tão certa quanto “quem não faz, leva”, do país do 7 X 1 temos o caso curioso da banda Worship, cujo principal mentor, Mad Max, levou tão a sério sua obsessão por suicídio que ele retratava em suas músicas, que certa vez, em uma viagem ao Canadá, ele pulou de um ponte e caiu de 87 metros. A polícia só encontrou seu corpo uma semana depois, submerso no profundo rio. Também é digno de nota o caso de Yuhani Palomäki, dono de uma das mentes mais criativas do Doom Metal, sendo o homem por trás da banda de Atmospheric Doom Metal Yearning e da banda de Funeral Doom Colosseum. Palomäki cometeu suicídio aos 32 anos de idade, no dia 15 de maio do ano de 2010 (um dia antes do falecimento de Ronnie James Dio), no auge de sua forma criativa.

E no Brasil, temos Funeral Doom Metal? Sim, temos, e de muita qualidade!

O nome mais conhecido do gênero em nosso país sem dúvida alguma é o Helllight. Fundada em 1996 na capital paulista, a banda já tem em sua discografia cinco álbuns de estúdio, todos eles trazendo uma carga emotiva e de desespero fortíssima, com boas doses de Death Metal, o que torna o som do Helllight bastante audível e variado. Dentre outras bandas brasileiras, temos uma grata surpresa vinda de Castanhal, no Pará. O My Funeral Dream surgiu em 2015 e estreou agora em 2017 com um EP chamado A Beleza De Um Funeral, onde a banda mostra que sabe fazer um Funeral Doom soturno, envolvente e com o DNA brasileiro do Metal extremo, inclusive com letras em português.

De Curitiba, um forte polo do Doom nacional, temos um Funeral Doom com doses de Black Metal, responsabilidade do De Profvndis Clamatis. Fundada em 2005, o grupo abusa de influências de Shape Of Despair com belas doses da melodia do Paradise Lost, o que deixa seu som rico e tocante.

A luz infernal do Funeral Doom brasileiro. Helllight.

Logicamente você não vai se tornar fã de Funeral Doom Metal somente lendo este artigo. Devido ao forte apelo sinistro e arrastado, é um gênero para poucos, somente para quem ousa e se aventura em experiências musicais extremas e tocantes, e para quem se sente bem em territórios depressivos e de morte. Se você não conhece nada de Funeral Doom, vale a pena conhecer ao menos o trabalho de algumas bandas que este relator destacou aqui. Garanto que seu conhecimento musical será enriquecido, pois novas experiências sonoras fazem bem para a mente. Embarque neste funeral.

Sob sugestões, resolvi elaborar uma segunda parte para este artigo, que trata do gênero Funeral Doom Metal, uma das formas mais obscuras e extremas de se fazer Heavy Metal. Extremo não no sentido de velocidade, brutalidade ou violência sonora, mas pelo contrário; pelo ritmo ultra-lento e pelas atmosferas extremamente soturnas e angustiantes que suas composições criam. Como a essência e a história do Funeral Doom Metal já foram explanadas na primeira parte, aqui abordarei algumas bandas que vem se destacando no cenário mundial e local.

Foram lembradas a bandas Evoken e Funeral, dentre as pioneiras do Funeral Doom ainda nos anos 90. Surgidas já quando Skepticism e Thergothon haviam começado com suas contribuições, a banda americana e a norueguesa, respectivamente, ajudaram a sacramentar o estilo antes do Boom da internet no começo dos anos 2000. O Evoken segue uma linha mais tradicional, caminhando perto do Death/Doom, enquanto o Funeral sempre andou de mãos dadas com o Gótico, mais parecendo o My Dying Bride marchando bem mais lento. Até hoje, ambas as bandas continuam em atividade, influenciando as novas bandas que pretendem encarar a árdua e pesada procissão fúnebre.

Na primeira parte deste pequeno compêndio, enfatizei que o estilo se tornou saturado a partir dos anos 2000 por conta da grande quantidade de bandas que surgiram e pela vontade da maioria delas de soarem parecidas com as referências. Quando este tipo de fenômeno acontece com um gênero, uma banda que queira se destacar tem que trazer algum diferencial, ao mesmo tempo em que não pode fugir das características primordiais do estilo. Uma das bandas mais criativas atualmente no cenário Funeral Doom mundial é o Ahab, da Alemanha.

Evoken: pavimentando o caminho da procissão na América

O Ahab foi rapidamente citado na parte I desta matéria, quando o texto se refere a “temas náuticos”. Os membros do Ahab são obcecados pelo oceano e por tudo que seja relacionado a ele, sendo este o assunto principal de seus álbuns, alguns deles conceituais. Tanto é que, em seu debut, The Call of the Wretched Sea (2006), o grupo intitulou seu som de “Nautik Funeral Doom”. Mas o que a gente menos precisa hoje é de novos nomes de gêneros. Logo, o Ahab busca fugir de temas mais tradicionais do Doom Metal como tristeza, morte e sentimentos. Junto as ideias das letras, o Funeral Doom do Ahab soa majestoso como a imensidão do alto-mar. Além disso, o grupo não se acanha em depositar pitadas de Sludge Metal em seu som, tornando seu Doom variado. Com o destaque que angariou desde sua fundação, em 2004, o Ahab se tornou a banda mais bem-sucedida e reconhecida de seu gênero, assinando inclusive contrato com a grande gravadora Napalm Records.

Oriunda da Bélgica, a banda Pantheist foi fundada no ano 2000 com a mesma proposta de Funeral Doom do Shape Of Despair, ou seja, foco nas orquestrações majestosas e sensatas. Com o passar da década, o Pantheist absorveu outros elementos em sua sonoridade, como uma maior variedade de ritmos e de atmosferas criadas por teclados, inclusive doses de Shoegaze. Tais variações fazem o Pantheist ser chamada agora de Progressive Doom (nome este que julgo ser mais apropriado para bandas como o Veni Domine, por exemplo). Por outro lado, as orquestrações soturnas, guitarras densas e ritmos lentos do começo da carreira permanecem até hoje no som da banda belga, o que a inclui no time das bandas de Funeral Doom que se destacam no atual período do tempo.

O músico sueco Johan Ericson é mais conhecido pelo seu trabalho com a banda de Gothic Metal Draconian. Mas ele encontra tempo de expressar seu lado mais agonizante com seu projeto de Funeral Doom, o Doom: VS, onde ele banca todos os instrumentos. Com aproximações ao Death/Doom tradicional, enriquecido de melodias fúnebres e de vocais limpos, o Doom: VS já lançou três full-lengths, sendo o último o ótimo Earthless (2014). Nos atuais círculos do Funeral Doom, o Doom: VS é um nome sempre lembrado e respeitado.

Pantheist: Prog Doom sem deixar de lado as cinzas do Funeral

Desçamos o mapa da Europa rumo ao País da Bota. A Itália possui um Heavy Metal genuíno; parece que existe um DNA que faz o Rock pesado daquele país ser único, não importando o gênero. As bandas de lá sempre trazem um sentimento medieval, melodias Folk e doses boas do característico Rock Progressivo local. A banda Arcana Coelestia vem da cidade de Cagliari trazendo todos estes elementos no seu Funeral Doom; uma beleza melancólica temperada com traços de Black Metal daquela região e com uma certa aura ocultista proeminente das letras e do visual misterioso. As músicas do trio formado por PV (bateria), RM (vocais) e MZ (guitarras, baixo e teclados) carregam uma aura romântica, ao mesmo tempo que transmitem o tradicional e agonizante peso fúnebre do gênero, mas com a cara do Metal italiano. Imagine você contemplando a imensidão do mar sentado em alguma construção medieval, sem luz artificial, no crepúsculo. Esta é a imagem que a música do Arcana Coelestia modela.

Arcana Coelestia: ocultismo e beleza mórbida em seu hipnotizante Blackened Funeral Doom

Mais uma banda que pratica um Funeral Doom empolgante é o Remembrance, da França. Fundada em 2004, o que parecia ser somente mais uma cópia do Shape Of Despair adquiriu identidade própria com o passar do tempo, chegando a plena forma musical com seu terceiro álbum de estúdio, Fall, Obsidian Night, de 2010. Apostando em orquestrações mais contidas e em duetos vocais homem-mulher (vocais limpos, diga-se de passagem), o Remembrance consegue se destacar e ser um importante nome no Doom europeu.

Remembrance: copiar Shape Of Despair é coisa do passado

Como já se pode notar até esta parte da matéria, a grande maioria das bandas de Funeral Doom Metal se concentram na Europa. Muito provavelmente pela própria personalidade do europeu, mais suscetível à introspecção.

Eis o motivo para este escriba que vos fala acreditar que o Doom Metal no Brasil não ser mais popular por conta da personalidade do brasileiro. Os estilos de Heavy Metal mais praticados em nosso país e mais visados por novas bandas são o Black, o Death, o Thrash e o Power Metal, quiçá nesta ordem. A ânsia do brasileiro em extravasar seus sentimentos e frustrações de forma forte e impulsiva explica o porquê de serem escolhidos os gêneros mais rápidos e agressivos. O brasileiro não tem muito da cultura da introspecção, algo essencial para que se absorva e se aprecie bem o Doom Metal. Para o Funeral Doom, então…

Funeral: enquanto morte e incêndios dominavam a Noruega, o grupo era um dos pioneiros do estilo que o batiza

Mas o Brasil é imenso! E nossa safra de músicos tem talento de sobra para dar suas versões de qualquer estilo. É por isso que a cada dia que se passa o Metal brasileiro é cada vez mais respeitado mundo afora. E não é de hoje. Em se tratando de Funeral Doom, já foram citadas a tradicional e excelente HellLight (que, inclusive, lançou uma coletânea comemorando 20 anos de estrada, para download gratuito. Vale a pena conferir ou conhecer), o De Profvndis Clamati, de Curitiba, e o My Funeral Dreams, do interior do Pará.

Na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, temos a banda Lelantos, que foi fundada recentemente, em 2016, e já chegou com um full-length, Akrasia. Com uma abordagem mais atmosférica, com teclados emulando timbres etéreos, a banda aposta em vocais limpos e líricos, a exemplo do Remembrance. O Lelantos vive sob o comando do músico Bruno B. Braga, que é responsável por todos os instrumentos.

O Sol Fulmina A Terra ! Frase que se aplica perfeitamente ao nosso país tropical, especificamente às regiões e paisagens semiáridas do Nordeste. Esta frase também dá nome ao segundo álbum de estúdio da banda paulista Abske Fides. Falando em paisagens semiáridas do Nordeste, este é o tema sobre o qual o disco disserta: a seca e o sofrimento do povo nordestino em meio à estiagem e a desolação. O Funeral Doom com influências de Paradise Lost e com passagens pelo Black Metal fez a banda Abske Fides chamar a atenção da gravadora russa Solitude Productions, que lançou O Sol Fulmina A Terra na Europa.

Abske Fides: usando o Funeral Doom para mostrar ao mundo como o Sol queima…

Para fechar esta segunda parte, escolhi uma banda oriunda de Buenos Aires, capital da Argentina. O músico Alejandro Sabransky carrega sozinho a banda Funeris desde o ano de 2014. De lá para cá, o Funeris já lançou seis álbuns de estúdio. Isso mesmo; em 2015 e em 2016, a “one-man band” lançou dois discos em cada, e o mais recente já saiu agora em 2017, Dismal Shapes. Na linha de Shape Of Despair e de 1000 Funerals, o Funeris esbanja um clima denso e sorumbático, difícil de ser absorvido. Todavia, morbidez e beleza são detalhes marcantes do som desta banda argentina.

Pois bem. Dito tudo isto, constata-se que o Funeral Doom é um dos filhos mais casca-grossa do Doom, mas ao mesmo tempo é uma música que é abraçada por muitas bandas, justamente pelo desafio de domá-la e de se fazer um trabalho empolgante e criativo, sem se perder dos detalhes que o tornam único: o ritmo ultra-lento, as atmosferas angustiantes e as guitarras densas. Digno de glória sempiterna é a banda que consegue moldar um estilo bruto e difícil, transformando-o num som altamente viajante, arrebatador e belo. Tão denso como o frio da Finlândia, terra de Thergothon, Skepticism e Colosseum; tão fatal como o Sol que Fulmina a Terra de Abske Fieds e HellLight; tão belo como as melodias de Shape Of Despair e Funeral. Sabendo trabalhar, o Funeral Doom toma a forma que você almeja.