Disco Raw Power, do Iggy Pop & The Stooges, completa 40 anos

O mundo já não era o mesmo depois dos anos 60. Beatles e Rolling Stones vinham do lado inglês, enquanto o Beach Boys traziam as harmonias refinadas de Brian Wilson nos Estados Unidos. O rock tinha mudado – e subgêneros diversos haviam surgido. Um grupo, no entanto, levava as guitarras para becos sombrios, sujos, escrachados, desbocados e altamente voláteis. Os excessos eram tantos que saiam do ambiente musical e respingavam na vida de Iggy Pop e da banda The Stooges. Cada um caía frente aos seus próprios demônios. Mas ainda havia tempo para mais uma obra-prima, que fecharia a primeira trilogia de discos do grupo, Raw Power, lançado há 40 anos, em 7 de fevereiro de 1973.

Em 1972, após lançar os também seminais The Stooges, em 1969, e Fun House, (1970), o Stooges já estava oficialmente acabado. Na época, Iggy Pop vivia sob o domínio da heroína e mantinha grande amizade com David Bowie e Lou Reed. A dupla de amigos vivia um momento extremamente criativo – Bowie vivia a era de Ziggy Stardust – e Iggy foi encorajado a tentar seguir em carreira solo. O Camaleão se ofereceu para produzir o seu primeiro álbum, em Londres, onde eles assinaram um acordo com a Columbia. Mesmo ao lado de James Williamson, antigo companheiro de banda, Iggy não se sentiu satisfeito no estúdio. Depois de tentar alternativas com músicos britânicos, a saída encontrada foi chamar de volta os irmãos Ron Asheton (que saiu da guitarra e foi para o baixo) e Scott Asheton (bateria). O Stooges estava de volta ao jogo.

O resultado foi uma porção de novas canções viscerais, em que guitarra de Williamson e a voz de Iggy Pop duelam em distorções sujas e vigorosas. Os momentos de respiro dentro do disco – ou melhor, os momentos de leve calmaria –, vieram com “Gimme Danger” e a blueseira “I Need Somebody”, após uma exigência da gravadora de que o álbum tivesse duas baladas, uma em cada lado do LP.

Iggy nunca soou tão centrado como em Raw Power. A sinergia e a urgência no estúdio naquele curto período de tempo (de 10 de setembro a 6 de outubro ) ficam evidentes (e audíveis). Mesmo na versão oficial, a primeira, de 1973, mixada por Bowie, que foi rejeitada pelo vocalista posteriormente, por ele achar que as músicas estavam limpas demais e haviam perdido aquele poder cru exibidos no estúdio. Iggy lançou, depois, um disco com as versões originais das canções.

Com uma impecável seleção de músicas, desde a abertura com “Search and Destroy” até “Death Trip”, que encerra o disco, o grupo de arruaceiros do rock entrou para a galeria das grandes bandas. E teve influência direta para a formação da música ouvida nas décadas seguintes: Johnny Marr, que com a guitarra do The Smiths redefiniu o rock, ou o pós-punk, nos anos 80, é fã declarado da habilidade de Williamson; Kurt Cobain, líder e gênio do Nirvana, dizia que Raw Power era um dos melhores discos que ele havia ouvido; e, mais recentemente, a crueza pode ser sentida no rock de garagem exibido por The Strokes e toda a geração que veio nos anos 2000.

A força de Raw Power foi tamanha que a própria banda não resistiu e logo chegou ao fim (de novo), em fevereiro de 1974. Iggy se internou numa clínica de reabilitação e retornou em carreira solo. O Stooges só voltou à ativa com The Weirdness, lançado em 2007, com alguns bons achados. Nada, contudo, se compara ao mais novo disco quarentão do pedaço: quase como um álbum de fotos que mostra até onde pode chegar uma juventude sem limites. E eles foram bem longe.

Ouça as músicas de Raw Power abaixo: